quarta-feira, 27 de março de 2013

O FUTURO DA POLÍTICA PORTUGUESA, PASSARÁ PELO REGRESSO AO PASSADO, POR SÓCRATES?




O futuro da política portuguesa, passará pelo regresso ao passado, por Sócrates? Tenho dúvidas! Contudo, há um facto indiscutível: o regresso de Sócrates à cena política, alterou as regras do jogo partidário. A polémica desencadeada pelo anúncio da entrevista à RTP, com centenas de comentários em todos os órgãos de informação, nas redes sociais com várias e antagónicas petições, tinha já dado uma imagem de desespero de uns e pânico de outros, em especial no espectro político da direita.

Na entrevista, Sócrates foi demolidor, apesar das tentativas dos entrevistadores para dificultar o seu raciocínio e exposição de ideias. Preparado como sempre, rebateu e contrariou com factos e números, as perguntas/afirmações e insinuações dos dois jornalistas. Não fiquei surpreendido, com a firmeza como se defendeu dos ataques, há muitos anos que o conheço pessoalmente e, por essa razão, não vou analisar o conteúdo da entrevista, mas antes as reacções e eventuais consequências.

Não me recordo de alguma vez ter acontecido, que uma entrevista dada por um político a um canal de televisão generalista, tenha provocado emissões especiais na SIC Notícias, RTP Informação e TVI 24. Só este facto, confirma a relevância política de Sócrates e a necessidade dos seus opositores reagirem de imediato. Procurei acompanhar na medida do possível, a forma como os vários comentadores analisavam o conteúdo da entrevista e o comportamento de Sócrates. Parecia que tinha acontecido um terramoto. Só o Miguel Sousa Tavares estava com o semblante normal, até mesmo um pouco sorridente, todos os outros, ou tinham "sorriso amarelo" ou apresentavam  um semblante de pesadelo, inclusive o João Galamba, que é conhecido como seu apoiante.

A generalidade dos comentadores, incapazes de contrariar os números e factos apresentados por Sócrates. preferiam falar em desejo de vingança, especular sobre os seus objectivos políticos, realçar a sua combatividade e preparação mas...sempre desvalorizando as suas opiniões políticas. A direita, representada por políticos ou comentadores, revelava pânico e começou logo no ataque com todo o manancial de deturpações,  responsabilizando Sócrates pela situação em que vivemos.

 A esquerda, estava toda incomodada, apesar do aparente apoio de um ou outro político ou comentador afecto ao PS. Em suma, o reaparecimento  de Sócrates, num momento em que a crise política e social se agrava, constituiu o maior facto político dos últimos tempos e vai, necessariamente, provocar grande agitação nos partidos, governo e presidência da república.

Significa que tudo o que referi, implica que o o futuro político, económico e social passa pelo regresso ao passado, por José Sócrates? Como referi no início, tenho dúvidas. É verdade que há falta de liderança política em Portugal e Sócrates é um líder nato. É indiscutível que ele é odiado por muitos portugueses, mas continua a ser respeitado e desejado por outros. Porem, o problema principal do nosso regime político, é que foi e está capturado pelas corporações,pelos interesses instalados que controlam os partidos.

  Este governo, como o anterior, revelam-se incapazes de fazer as reformas que decorriam dos PEC e das que eram exigidas, inicialmente, pela Troika, porque a maioria dos dirigentes políticos e o Governo, estão condicionados pelo capital financeiro, pelos grandes grupos económicos e pelas elites que capturaram o estado. Sem democratização do regime, através da participação e manifestação das pessoas, nada de fundamental vai mudar. Sócrates vai abanar as actuais lideranças políticas e o Governo, mas nada nos garante que ele possa, ou queira, dar algum contributo para a democratização e transformação dos partidos.

domingo, 3 de março de 2013

O CAUDAL HUMANO DAS MANIFESTAÇÕES DESAGUARÁ NO MAR DO POPULISMO, OU NA FORMAÇÃO DE UM NOVO PARTIDO?




O caudal humano das manifestações, desaguará no mar do populismo, ou na formação de um novo partido? Os grandes protestos ontem realizados, principalmente em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, constitui apenas um aviso para o governo, para os partidos e sindicatos, ou apenas um protesto contra a troika? Assisti , através das reportagens realizadas pelos vários canais das televisões, ao desenrolar de todas as manifestações, de entrevistas de anónimos, de dirigentes políticos  e sindicais e de alguns discursos de encerramento, com todos a cantar Grândola Vila Morena!

Durante horas, foi sendo criticado muitas das medidas de austeridade, através de cartazes e de palavras dos entrevistados, ainda que muitas das pessoas, apenas se referissem à sua situação pessoal ou familiar. Viu-se e ouviu-se também, muitas críticas ao governo e, acima de tudo, a sua condenação com pedidos de demissão. Relevante, ainda, foram as críticas ao Presidente Cavaco Silva, através do maior apupo na concentração do Terreiro do Paço. Porém, o que mais se destacou foi as palavras contra a Troika, exigindo a sua saída.

Entretanto, não consegui ver qualquer cartaz contra os interesses instalados, nem ouvi qualquer declaração contra os privilégios das corporações, com a excepção da condenação dos Bancos. Porque afirmar "que se lixe a troika", quando muitos dos que lá estavam, recusaram as reformas previstas  no PEC IV e, consequentemente, contribuíram para a vinda da Troika e para a formação do actual Governo?

Apesar dos organizadores terem defendido sempre, que se tratava de manifestações de cidadania, alguns partidos procuraram aproveitar-se o que, segundo foi afirmado, gerou contestação e algumas escaramuças. Todavia, com a colaboração dos repórteres televisivos, dirigentes do PS, PCP, BE e da CGTP, fizeram vários comentários sobre as manifestações e, naturalmente, para condenar o Governo e a Troika, enquanto os organizadores se remeteram ao silêncio, ou foram esquecidos.

Como nos discursos finais, não foi defendida qualquer alternativa de governo, nem sequer o pedido de novas eleições, apesar da participação e apoio às manifestações por parte dos partidos de esquerda, é relevante questionar, os verdadeiros objectivos dos organizadores e dos participantes destas grandes movimentações de força da população portuguesa, ou mais propriamente, das chamadas classes médias.

É minha opinião, que as manifestações foram contra tudo e contra todos. Foi explícita, na condenação do Governo e da Troika, implícita na crítica aos partidos e sindicatos, na medida em que foi omitida a sua participação ou as suas propostas políticas como alternativa ao actual governo.Para que serviu a saída às ruas de tão grande massa humana? Criar base de apoio para novo partido democrático?

 Espero estar enganado, mas é minha convicção que o populismo está a crescer, como foi mais evidente ontem, do que na manifestação de Setembro. Sem novo enquadramento partidário, o descontentamento evidenciado, pode degenerar e alimentar a constituição de movimentos populistas e antidemocráticos.

Porém, como os actuais partidos não demonstram qualquer vontade de mudança interna, nem interesse em permitir convergências ínter partidárias, para as reformas necessárias do sistema político, certamente como consequência de estarem dominados pelos interesses instalados, não nos parece nada fácil, se é que é possível superar a actual situação, dentro do actual quadro democrático.

Tendo em conta que a austeridade vai continuar em Portugal e outros países europeus, com a consequente diminuição dos níveis de vida das chamadas classes médias. Constatando-se que as corporações e as camadas sociais que tem sido privilegiadas, continuam a resistir e a saber defender-se, ainda é mais urgente clarificar, quais são os "inimigos" internos dos portugueses.

 Simultâneamente, é indispensável saber como aproveitar o capital político, destas manifestações de descontentes, para pressionar as reformas políticas, que o país precisa. Admito, que os organizadores e a maioria dos participantes do movimento 2 de Março, tem responsabilidades no processo. Esperamos que saibam estar à altura dos acontecimentos!