quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PERPLEXIDADES III

Há poucos dias abordei, aqui, o "alarido" que foi feito a propósito das declarações da Troika, sobre a necessidade de baixar os salários no sector privado. Agora, quando o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, afirma que Portugal deve ser vigiado, controlado pelos Órgãos da União Europeia, durante mais de uma década,quase ninguém quer comentar e, menos ainda, condenar! Até ao momento que escrevo e tanto quanto é do meu conhecimento, nem os Partidos Políticos, nem os Sindicatos ou as Associações patronais, tomaram posição. Já nem falo da "virgem" ofendida, o Presidente do BPI, nem da Elite "chocada" com as anteriores afirmações.
 
Será...porque desta vez, ao contrário da anterior, as televisões não transmitiram em directo para a generalidade do povo português e, este, não pode confirmar, mais uma vez, que não temos Elite capaz de nos governar? Será...porque tal afirmação foi feita por um português? Será... porque as classes dirigentes já interiorizaram a inevitabilidade de nos mantermos décadas como "Protetorado" e já perderam os "tics" da defesa da "honra nacional"?

Quando se constata, que várias das medidas impostas,no Memorando da Troika, não estão a ser cumpridas pelo Governo, já nem defendidas pelo PS, que o negociou, algo terá que acontecer para cumprir as metas e pagar aos credores, para não entrar-mos em "bancarrota". Parece, que a generalidade dos portugueses que, de forma directa ou indirecta, beneficiaram com as dezenas de milhares de milhões de euros dos fundos comunitários e viveram acima das posses, contribuindo para a dívida que nos sufoca, não querem pagar, não aceitam reformas, nem querem mudar de vida. Desejo, sinceramente, estar errado na análise que faço, contudo, tudo se conjuga para, não apenas sermos vigiados pela União Europeia, mas também, para sermos directamente governados pela Comissão Europeia!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

PERPLEXIDADES II

Qual a razão, porque uma sugestão da Troika provocou uma onda de críticas, quando as imposições expressas no Memorando, tinham sido reconhecidas como indispensáveis por muitos, apoiadas por outros e "criticadas" por alguns? É porque foi afirmado perante as câmaras de televisão e todos os portugueses ficaram a saber "quem manda", ao contrário do Memorando que foi escondido de eleitorado? Será apenas porque não concordam com cortes no sector privado, ou receiam, que os atingidos tenham que ser apenas a classe média, os grandes proprietários e o capital, porque os que trabalham na produção ou nos serviços, já vivem próximo da miséria? Ou será que temem, que a sugestão da Troika de cortes no sector privado, quando passa nas televisões europeias, levará as pessoas e alguns organismos internacionais a concordar, pois conhecem estudos e relatórios, que demonstra ser Portugal um dos países onde a desigualdade na distribuição dos rendimentos é maior?


Quando se constata que, o Presidente da República, a Igreja, os partidos políticos, os sindicatos e até os dirigentes patronais, são contra a redução de subsídios ou de remunerações do sector privado, algo está errado. Então, não devem ser todos os portugueses, com rendimentos acima de certo nível, que devem pagar?

Admitindo que a C.R.P. ainda é válida e, como consequência, o corte de salários ou de subsídios seria inconstitucional, porque ninguém quer sugerir um imposto especial temporário, que qualquer governo tem legitimidade para aprovar?

Continuo perplexo... e chego a pensar, que eles se esquecem que as dívidas são para pagar..., são da sua responsabilidade, ainda que muitos de nós também tenhamos contribuído para a "banca rota".


Nota: Não posso deixar de lamentar, que até Mário Soares, um dos políticos que mais respeito e aprecio, e António José Seguro, que apoiei a SG e com quem me identifico, politicamente, em muitos aspectos, tenham entrado neste coro de criticas sem alternativa.

PERPLEXIDADES I


Devo admitir, que a situação económica e social em Portugal, não é agradável. Todavia, não deixa de ser surpreendente, constatar que o PCP, o BE e o patrão do BPI, convergem na crítica à Troika. Nós, já sabíamos, que as posições políticas do PCP e do BE ,nos últimos tempos, tiveram como objectivo principal ajudar a direita a derrubar o Governo de Sócrates.

Passos Coelho, das poucas verdades que disse, é que queria governar com o FMI. A pretensa esquerda, para enganar os trabalhadores incautos e os políticos ingénuos,nem sequer quis qualquer contacto com os negociadores do Memorando.

Poucos meses passados, a "esquerda" da direita já aceitou discutir com a Troika no Parlamento, isto é, com a UE, o BCE e o FMI e...os patrões, já estão fartos das suas conferências de imprensa! Sinceramente, não poderei deixar de ficar perplexo...

domingo, 6 de novembro de 2011

IGNORÂNCIA, OCULTAÇÃO OU DETURPAÇÃO DOS FACTOS, O QUE SERÁ PIOR?

Na actual situação política e económica, em que Portugal se encontra, o que será mais prejudicial para o nosso futuro: A ignorância ou a ocultação e deturpação dos factos ? Sinceramente, tenho alguma dificuldade em responder! No último artigo, já caracterizei várias situações políticas, económicas e sociais. Também assumi, haver necessidade de tomar várias medidas pelo governo, para tentar superar a crise em que vivemos. Penso, também, que identifiquei alguns dos factos e acontecimentos que contribuíram para o período de austeridade que vamos viver.

Hoje, vou procurar analisar, politicamente, dois estudos internacionais sobre a economia mundial. Um, sobre o crescimento desigual, publicado no blog ,"PUXA PALAVRA". Outro, sobre a distribuição da riqueza nos EUA, publicado no blog, "Esquerda Republicana". Embora a distribuição de riqueza, seja quase sempre dependente das políticas internas de cada país ou espaço económico, também é o resultado do PIB, isto é, da riqueza que cada sociedade consegue criar. Todavia, como não pode haver distribuição sem prévia criação de riqueza, ainda que possa haver mais justa redistribuição das dívidas acumuladas, vamos abordar o estudo sobre crescimento desigual.


Analisando o crescimento do PIB das economias avançadas, UE e EUA, a partir de 2007, ou seja antes da crise, e comparando com o PIB dos países emergentes e em particular os Asiáticos, a situação revelada é esclarecedora e chocante para o Ocidente. Enquanto a crise de 2008/2009, afectou profundamente a Europa e os Estados Unidos, provocando a queda do crescimento, os países emergentes apenas sofreram ligeiros desvios a um acentuado crescimento e os Asiáticos continuaram a crescer vertiginosamente.


Contudo, a situação mais grave, é revelada ao comparar-mos os dados de 2011. Na análise gráfica, partindo todas economias de uma base 100, a Europa desceu para 99,4, os Estados unidos "cresceu" para 100,6, as economias emergentes para 124,5 e as Asiáticas em desenvolvimento para 136,8. A conclusão é por demais evidente: No Ocidente, em quatro anos,não houve crescimento económico, nos emergentes um crescimento de 6%ao ano e na Ásia quase 10% de crescimento anual de riqueza!!!


Perante estes factos, será legítimo continuar apenas a lutar contra os governos, de esquerda ou de direita, sem colocar em questão a deslocalização das indústrias da Europa para o oriente, sem reequacionar o modelo social do período "neocolonial" Europeu, quando produzíamos e exportava-mos para todo o mundo? As crises das dívidas soberanas e privadas externas de Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e os outros países que estão na calha, são o resultado de termos perdido competitividade em relação às economias emergentes, reflecte a consequência de continuar-mos a gastar mais do que produzimos, enganados com o crédito barato que agora temos que pagar!


Simultaniamente e, também, reflexo da política neoliberal e do domínio de mundo pelo capital financeiro, temos milhões de desempregados na Europa, os salários e vencimentos do mundo do trabalho continuam a desvalorizar, as regalias sociais, conquistadas e instituídas de acordo com o Estado Social, umas estão a ser cortadas e outras diminuídas, ao mesmo tempo que as rendimentos dos altos quadros são enormes, escandalosos, e os detentores do capital ganham e roubam o que querem provocando uma desigualdade que já não existia à décadas!


Para concluir, cumpre agora relacionar o estudo sobre a distribuição da riqueza nos EUA. O gráfico apresentado, demonstra que já foi atingido uma desigualdade com valores idênticos aos anos trinta, do Século XX, e também que políticas contribuíram para a actual situação. Com pequenas oscilações, os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres, mantiveram-se com a mesma diferença, desde o início dos anos quarenta até á década de oitenta do Século XX. A partir de 1982, sobe a liderança de Regan e a política neoliberal, a desigualdade recomeçou novamente a crescer até chegar à actualidade idêntica à dos anos trinta, apesar de ter havido uma ligeira diminuição no mandato de Clinton.


Não sendo os Estados Unidos uma boa referência histórica, em termos de distribuição de rendimentos, poderá dizer-se, que actualmente representa bem o modelo universal do domínio financeiro e das políticas neoliberais, apesar do Presidente Obama, inicialmente, ter tentado contrariar um pouco o poder absoluto dos bancos e voltar à regulação do sistema capitalista. Os factos referidos, devem servir de meditação, para todos os que acreditaram na propaganda do neoliberalismo, da vantagem da iniciativa privada em contrapartida com o domínio público em muitos sectores estratégicos, ao mesmo tempo que criticaram e condenaram a política e os políticos como sendo todos iguais e corruptos. A ideologia nunca acabou, as classes sociais continuam e os Partidos Políticos não são todos iguais!


Os últimos acontecimentos, na Itália e na Grécia, como já aconteceu também a Portugal, Irlanda e em certa medida a Espanha demonstram, inequivocamente, que não são os povos a decidir quem governa, quem elege os governos. Berluscon e Papandreu tinham maioria absoluta. Todavia, perante os juros das dívidas soberanas que o capital financeiro vai impondo, nada lhe vai resistindo. As novas "lideranças" nos governos,apenas se limitam a cumprir as decisões do capital financeiro, para que as dívidas sejam pagas mesmo à custa do retrocesso social dos povos. Só a luta política dos povos da Europa e não cada país isoladamente, pode alterar esta política neoliberal, acabar com o domínio absoluto do capital financeiro. É indispensável que a política volte a comandar a economia. É necessário que os povos se voltem a interessar pela política e retomem o poder de eleger os lideres dos governos. É tempo de os Povos Europeus constituírem os Estados Unidos da Europa!