domingo, 29 de dezembro de 2013

DO FATO MACACO "REVOLUCIONÁRIO" DA BURGUESIA RADICAL, AO NEOCORPORATIVISMO DAS "CLASSES MÉDIAS" DE AVENTAL



2ª Parte do artigo:
 "Será a democracia actual, compatível com o poder das classes médias?"



Do fato de macaco "revolucionário" da burguesia radical, ao neocorporativismo das "classes médias" de avental, foi o percurso de muitos homens e mulheres, que conheci, durante a minha actividade política. Há que reconhecer, que muitos deles tiveram e outros continuam a ter, muito êxito. Não só assumiram altas responsabilidades nos governos e nos Órgãos de Estado, como lideraram governos, presidência da república, Comunidade Europeia, entre outros organismos internacionais.
 A longa lista de livros publicados de"auto biografias", entrevistas, artigos nos jornais,revistas e nos blogs,  permite compreender que a generalidade dos "revolucionários" não mudou de política e ideologia para procurar atingir os objectivos que diziam defender, o que seria natural, (como eu fiz )mas antes por interesses individuais, próprios à sua classe social e contrários ao mundo do trabalho.

Estes "revolucionários",  apos terem sido derrotada juntamente com o PCP, no 25 de Novembro de 1975, depois de terem sido "abandonados" pela classe operária e os trabalhadores, regressaram às universidades para concluir as suas licenciaturas e outros já como professores. Porém, com as nacionalizações e partidarização das empresas públicas, face à falta de quadros, ocuparam tudo o que era lugares de gestão, direcção e chefias bem remuneradas, contribuindo para criar uma espécie de pirâmide invertida, para haver lugar para todos os amigos e dos amigos dos partidos, que eles ainda não influenciavam.

Querendo voltar a ganhar protagonismo político no seio dos trabalhadores e porque estavam marginalizados no movimento sindical unitário, (de que sempre discordei), começaram a formar sindicatos de quadros e impulsionaram a criação de comissões de trabalhadores, para tentar contrariar o hegemonismo do PCP. Posteriormente, de uma forma gradual, foram esquecendo a "revolução" e os minúsculos grupos partidários a que tinham pertencido , e começaram a entrar discretamente (com excepção do MES que negociou a entrada) nos partidos democráticos, particularmente no PS, onde se impuseram rapidamente, face à nula formação política e ideológica dos simpatizantes 
deste partido.

Posteriormente, a participação no poder através dos governos, na função pública, nas empresas públicas e nos sindicatos de quadros, rapidamente demonstraram que os interesses do mundo do trabalho, que antes diziam defender, não fazia parte das suas preocupações. Os seus interesses eram e são as benesses e os altos vencimentos que vão acumulando, à custa do aumento das desigualdades,  dos prejuízos das empresas públicas e dos défices do Estado sem, contudo, terem ainda a ousadia de revelar os seus "objectivos revolucionários" , na juventude.

Contudo, com a chegado dos fundos comunitários  aos biliões e a possibilidade de participar na sua "gestão", seguida da queda do "Muro de Berlim" , muitos "revolucionários" perderam os complexos e  começara a escrever sobre o seu passado, para o renegar. Paralelamente, o PCP já transformado pelo poder que detinha, já sem base operária e circunscrito ao sector público e autárquico e sem o apoio da URSS, foi-se integrando no sistema, sem o assumir e em colaboração com o que actualmente" se designa de "classes médias", acentuam a captura do Estado. Como consequência desses interesses comuns, tem lutado para impedir qualquer tipo de reformas do estado nos "interesses instalados" acabando por contribuir, decisivamente,  para entrar-mos em pré banca rota e para a situação de impasse político, em que nos encontramos actualmente.

Aqui chegados, porquê as chamadas classes médias estão desesperadas e tudo fazem para bloquear qualquer reforma? Porque, apesar de influenciarem, de forma oculta, todos os partidos e das forças neoliberais serem minoritárias no PSD e CDS e residuais no PS, já tomaram consciência, ainda que não a queiram assumir, que qualquer futuro governo, terá que cumprir as medidas emanadas da Toika ou de Bruxelas. Porque sabem, mas não querem aceitar, que a austeridade é para continuar e que as reformas terão que ser feitas, particularmente, contra as corporações que capturaram o Estado.

Para cúmulo do seu "azar" e da sua fragilidade política, a esmagadora maioria dos portugueses já não acreditam nas chamadas classes médias, nos seus partidos, e em todas as propostas demagógicas que tem feito para impedir as reformas e manter as desigualdades, revoltantes, que eles criaram. Sentem dificuldade em manter os seus vários lugares, porque o número de Licenciados, Mestrados e Doutoramentos aumentou quase exponencialmente, gerando concorrência atravez de menores vencimentos e, em especial, pela pressão dezenas de milhar de Licenciados desempregados, que não querem, ou não se consideram aptos a emigrar, e não aceitam pacificamente a sua discriminação.



 3ª Parte do artigo:

SATURADA DA "DROGA" DAS ILUSÕES, AS ESQUERDAS RECORREM AO "ÓPIO" DOS MILAGRES!



Todavia, como já referi, as razões profundas do descontentamento das chamadas classes médias reside na sua ideologia, ou falta dela. Está suficientemente documentado que, na Europa e não só, os comunistas, socialistas, sociais democratas, ecologistas, radicais, et,c, quase desapareceram do espectro partidário, ou perderam a capacidade de formar governos. 
Há dois anos, prestavam atenção ao líder da esquerda radical, porque seria capaz de impedir as medidas da Troika, na Grécia. Depois, depositaram a esperança em François Hollande, para travar Angela Merkel. Finalmente, aguardaram pelo SPD Alemão, para mudar a política da União Europeia, particularmente, a política monetária e financeira. Naturalmente, tudo não passou de ilusões, de quem não quer aceitar a realidade, pagar as dívidas, nem discutir a possibilidade de encontrar convergências  políticas futuras, acabando todos por voltar-se para o Papa Francisco...à espera de milagres!

A Globalização, definida e aplicada pelo capital financeiro internacional, que lhes tem permitido lucros fabulosos, não imaginários há um quarto de século, também contribuiu para a emergência de outras potências económicas, particularmente os BRICS. Simultâneamente, deu início à decadência da  supremacia da América e da Europa, deslocando o "centro do mundo" do Atlântico para o Pacífico.
 Decorrente desta estratégia e do facto, historicamente comprovado, de que o capital não tem pátria e, actualmente, sem qualquer receio de investir em qualquer parte do mundo, deslocalizou a produção da União Europeia para a Ásia, provocando dezenas de milhões de desempregados e uma concorrência feroz entre países e regiões,  mas em especial, no mundo do trabalho qualificado e nos trabalhadores  com formação superior, fora da ciência e da técnica.

Acresce aos factos já referidos, que a ideologia dominante, o neoliberalismo, quer privatizar não só as empresas como até o próprio Estado, "proletarizando" as classes médias, habituadas a mandar no Estado e a viver à custa dele, levando-o à falência em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda. Como esta gente se recusa a organizar politicamente, não soube GERIR o Estado, desvalorizou até onde pode o mundo do trabalho manual, não ousaram investir na criação de empresas susceptíveis de competir no mundo global, preferindo antes gastar o dinheiro (ganho e não só) em vivendas, carros, férias etc, agora não tem apoio nem confiança do mundo financeiro, nem da esmagadora maioria dos eleitores, como as eleições tem demonstrado.

As "esquerdas" europeias e em em Portugal, em particular,sem o apoio da classe operária e da generalidade dos trabalhadores manuais com baixos salários, não tem capacidade de ganhar eleições.  Apesar de, objectivamente, defenderem interesses convergentes, os partidos continuam fragmentados a lutar pelo mesmo eleitorado, parecendo esquecer que a maioria dos eleitores não acredita neles. Sem uma plataforma política convergente em prole da diminuição das desigualdades sociais, entre as chamadas classes médias e o mundo do trabalho, que passa pelo fim do neocorporativismo, dificilmente as esquerdas poderão ganhar eleições e ter capacidade de constituírem governo
Por outro lado, porque não há "ilhas do socialismo" mas apenas, e só, um sistema capitalista, a eventual plataforma teria que demonstrar nas suas propostas e objectivos, que seria mais favorável ao mundo do trabalho,  do que tem sido os programas e a prática dos liberais pois, pior que um capitalista...só um mau capitalista.

 Eu tinha e tenho algumas dúvidas, se a "terceira via" de Tony  Blair, consistia uma alternativa de gerir o capital,mais favorável para os trabalhadores. Contudo, as reformas de Gerhard Scheroder, apesar de terem sido duríssimas para os operários e trabalhadores Alemães, demonstraram que no mundo globalizado é o único caminho a seguir, para se manter e criar empresas e  postos de trabalho, aumentar a produtividade das empresas e a eventual recuperação de salários, através do contínuo aumento das exportações e, ou, diminuição das importações.

Estarão os partidos da esquerda, as chamadas classes médias  e os trabalhadores, disponíveis para fazer esta abordagem política e ideológica, ou vão manter a discussão de "avental"restrita às suas lojas?  Quererão apenas continuar a falar em unidade de esquerda , enquanto uns partidos se vão desmoronando, outros reduzindo drasticamente, enquanto vão aparecendo mini partidos e movimentos, perante a indiferença do mundo do trabalho? Gostaria que assim acontecesse, mas tenho poucas dúvidas que o actual sistema partidário, só poderá mudar quando, através da austeridade, "tirarem mais umas penas" a uma grande quantidade de "pavões", que passeiam a sua vaidade e arrogância, em nome das esquerdas, pondo em causa a DEMOCRACIA E O ESTADO SOCIAL!




quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SERÁ A DEMOCRACIA ACTUAL COMPATÍVEL COM O PODER DAS CLASSES MÉDIAS?




Será a democracia actual compatível com o poder das chamadas classes médias, sem nos levar à  pré banca rota? Em 25 de Junho de 2013, escrevi o artigo, "PERMITIRÁ A NOMENKLATURA, A REFORMA DO ACTUAL SISTEMA POLÍTICO? DUVIDO!" Durante os últimos três anos, todos assistimos através das televisões, jornais, revistas e redes sociais, à veneração e exaltação do papel "incontornável e indispensável" das chamadas classes médias, para a manutenção da democracia, ainda que ninguém queira explicar o que são verdadeiramente essas classes, onde estão e quem as representa.

O último chumbo do Tribunal Constitucional, sobre a convergência das pensões e reformas tem um significado político relevante: os poderes instalados no aparelho de Estado, não aceitam reformas. Toda a oposição saudou a decisão, inclusive o PS (que assinou o Memorando), o qual, se estivesse no Governo teria que tomar medidas idênticas e, como no passado, seria o PSD e o CDS a saudar o chumbo. Todavia, não são apenas algumas das decisões que o TC já tomou, que dificultam as reformas. O Governo tudo tem feito para protelar a extinção de Fundações e Institutos, a reforma e diminuição de organismos públicos, a diminuição das rendas usurárias da banca, da energia, das PPPs e, particularmente, a recuperação dos dinheiros públicos roubados no escândalo do BPN.

Há, certamente, muita tese sobre as razões do impasse político, económico e social e consequentemente constitucional, mas soluções para a crise, continuamos no reino das ilusões. No entanto, a dar crédito aos partidos da oposição, a muitas vozes sonantes no PSD e ao significado das continuas contradições no CDS, o problema não está no sistema, mas no Governo Coelho/Portas. Para estas forças e a generalidade dos comentadores, além da responsabilidade do Governo, culpa principal da situação em que vivemos é da Troika e, principalmente, de Merkel e dos Alemães. Assim sendo, a primeira tese, é a defesa de um governo de salvação nacional, contra a austeridade e pelo crescimento económico, base para reconquistar a independência financeira. Outra tese, muito apadrinhada, é a necessidade de unir a esquerda para formar um governo anti liberal, contra a austeridade. Outra, com cada vez mais seguidores, é sair do Euro e procurar uma convergência política e económica triangular -Portugal, Brasil e Angola.

Subjacente a todas estas teses e outras, difundidas nos média, está sempre a defesa do papel "preponderante e insubstituível" das chamadas classes médias, apesar dos seus principais porta vozes, Pacheco Pereira, Adão e Silva, Daniel de Oliveira, Francisco Louça e Manuela Ferreira Leite, entre outros, face à indiferença do povo aos seus apelos, agora já afirmarem que é o Tribunal Constitucional e a Constituição da República, o último reduto para a defesa do Estado Social, e não o seu poder e força organizativa. O facto de nas últimas eleições autárquicas, apenas terem votado 37% dos eleitores nos actuais partidos, para não descontar os que votaram nos independentes e, particularmente, a saída de mais de 200000 portugueses como emigrantes, não faz reflectir as chamadas classes médias para  mudar de atitude e aceitar fazer as reformas  do sistema, porque o capturaram e porque todos os partidos estão alicerçados e apoiados nessa base social.

Todos nós podemos constatar, que os partidos da oposição e os "contestatários" internos dos partidos que governam, condenam as medidas de austeridade,  porque atingem as classes médias, em particular, o pequeno comércio e serviços, e a "geração mais bem formada de sempre", ainda que alguns procurem passar a ideia que as medidas são iguais para todos os trabalhadores e reformados, com o objectivo de encontrar apoio no mundo do trabalho. Porem, são cada vez mais as vozes a afirmar, que o Estado foi capturado pelo mundo financeiro e as grandes empresas mas, também, aqueles que afirmam, (como Correia de Campos, no Público, do dia 16/12), que a esquerda se deixou capturar pelas corporações dos "médicos, advogados, engenheiros, economistas, professores, farmacêuticos ou funcionários públicos", ou seja, as chamadas classes médias.

Aconteceu que o mundo mudou, profundamente, no último quarto de século. A queda do Muro de Berlim representou, simbolicamente, a derrota do socialismo e a consequente vitória do capitalismo à escala planetária. Como corolário dessa vitória, a Globalização consolidou-se sob a orientação do capital financeiro, com base na ideologia neoliberal. Paralelamente, se os comunistas ficaram sem "farol", os socialistas, sociais democratas e as organizações radicais de esquerda, ficaram sem programa susceptível de continuar a ser os intermediários, entre o capital e o trabalho, porque o socialismo e o comunismo acabou, como ameaça para o capital.

A História tem destes paradoxos. O capital, que tanto apoiou a pequena e média burguesia e seus partidos, para sabotar revoluções e impedir a instauração do socialismo em vários países , agora já não as quer, nem sustenta, a não ser aqueles que aceitem e defendam o liberalismo e a destruição do Estado Social, tal como o conhecemos. As chamadas classes médias  estão desesperadas. ao ver que o seu papel de tampão já não é indispensável. Protestam, ao constatar que empresas públicas e sectores públicos, onde auferiam os seus altos vencimentos, estão a acabar e que, no aparelho do Estado, já não há lugares para todos. Finalmente, revoltam-se perante a concorrência do mercado do trabalho, que aumentou a proletarização que eles tanto desprezam e odeiam,  mas sentem ser a sua única alternativa.

Agora, muitos andam a escrever nas redes sociais, uma citação que, em termos sintéticos, reflecte o seu pânico: "o que temia-mos que os comunistas nos tirassem, tiram agora os liberais!" Quanto ás razões da (in)compatibilidade com a democracia, que são sobretudo ideológicas,  procurarei responder na segunda parte deste artigo.