terça-feira, 25 de junho de 2013

PERMITIRÁ A NOMENKLATURA, A REFORMA DO ACTUAL SISTEMA POLÍTICO ? DUVIDO!




A palavra, NOMENKLATURA, designava a classe dirigente dos sistemas socialistas soviéticos e afins. Após a queda do "Muro de Berlim", esta palavra desapareceu do léxico político. Em termos simplistas, o sistema social fascista, como então se designava, através da propaganda e da mentira, afirmava que tudo estava bem, o povo vivia no melhor dos mundos e a "sociedade socialista", era invencível pelo capitalismo. Simplesmente, quem tinha tudo, benesses e regalias e a propriedade do Estado ao seu serviço, era apenas a NOMENKLATURA, dirigida pelo KGB, que acabou quando o povo se revoltou!

Que tem a ver aquele sistema político, com a realidade portuguesa, perguntarão alguns leitores? Aparentemente, nada. Temos partidos políticos, sindicatos, organizações patronais, organizações cívicas, liberdade, democracia e um sistema político, formalmente, democrático e progressista. Todavia, a maioria das pessoas não se sentem representadas pelos partidos ou sindicatos, não acreditam nos governos, no Presidente da República e nos vários órgãos do estado e, ainda menos, nos dirigentes autárquicos, porque? Porque o verdadeiro poder está à margem do povo, a generalidade destas organizações são apenas "fachada". O poder que tudo decide e controla, está concentrado no "Quartel General dos interesses instalados"-Maçonarias, Opus Dei, Serviços e Organizações Secretas, Discretas e Afins!

Esta percepção, da realidade política do nosso país, é assumida por alguns analistas e estudiosos do sistema opaco de poder, através da publicação de livros e artigos em jornais e revistas, sobre as maçonarias e o Opus Dei. O desinteresse e hostilidade das pessoas é tão evidente, que cada vez mais políticos, sentem a necessidade de vir a público "defender" reformas, mas quase sempre afirmando, que a reforma é possível dentro do actual contexto político e constitucional. Atente-se no seguinte paradoxo: Para não recuar mais no tempo, afirmo sem margem para erro, que há um quarto de século se fala em reformas, reformas estruturais, por vezes até se nomeiam comissões, mas...nada de substancial se altera. 

Todos os partidos na oposição defendem reformas, raramente com especificação das medidas e, logo que chegam ao governo, mesmo que ensaiem alguma medida substancial, terão a oposição dos que saíram do anterior governo...para tentar captar o descontentamento das pessoas atingidas. Temos porém ainda mais um paradoxo, aqueles que não tem feito formalmente parte do governo, recusam toda e qualquer reforma, desde que não seja apresentadas por eles, estando sempre disponíveis para ajudar a derrubar qualquer governo, como aconteceu ao último de Sócrates

Por estas e outras razões, que o espaço não me permite abordar, desde o 25 de Abril, que o FMI e agora com o BCE e a CE, tiveram que vir três vezes em nosso apoio, para não cair-mos em banca rota, mas perdendo temporariamente a nossa independência, na tomada de decisões. Aqui chegados, temos a Troika ,que fez aprovar o Memorando, pelo PS, PSD e CDS e, para não variar, com a oposição do PCP e BE. Apoiei desde início e continuo a apoiar, o Memorando da Troika, pois este continha um conjunto de medidas contra os interesses instalados que, a ser aplicado, reformaria todo o aparelho de Estado e as autarquias, pela primeira vez desde o 25 de Abril.

A consciência que tinha da grave crise económica e financeira, que existia em 2011. O facto dos partidos do "arco da governação",  terem subscrito o Memorando. O Discurso de despedida de Sócrates e as posições políticas, iniciais, de António José Seguro, alimentaram-me a esperança, que as reformas previstas no Memorando seriam concretizadas. Mas... subavaliei o enorme poder e influência, do "Quartel General" dos interesses instalados, que constitui uma autêntica NOMENKLATURA. Logo que foram atingidos, minimamente, os seus interesses, começou a sabotagem das reformas, a crítica à Troika, a divisão nos partidos e a luta feroz das corporações, pela manutenção dos seus privilégios!

Estes últimos dias, estão repletos de acontecimentos tão graves, que tudo leva a querer que vai levar a novo impasse político, senão vejamos: O CDS, continua com a demagogia do costume, dando a entender, que poderá abandonar o governo. No PSD, já ninguém se entende, todos começaram no tiro ao Gaspar, muitos dos quais tinham apoiado, as suas medidas iniciais. O PS, tentando cavalgar no descontentamento das pessoas, pede eleições antecipadas e recusa todas as reformas do governo, ainda que sabendo que se fosse poder, como já quer, teria que aplicar as mesmas medidas. O Governo, voltou a não tornar público, o guião para as reformas do Estado. O Ministro Nuno Crato, acaba de ceder em toda a linha aos sindicatos dos professores reconhecendo, mais uma vez, que quem manda no seu Ministério é o Nogueira, através da Fenprof. Os sindicatos vão para nova greve geral . As organizações patronais, afirmam que a austeridade falhou, isto é, deixaram de apoiar o Ministro das Finanças Victor Gaspar, e o Governo. Quanto ao eventual papel do Presidente da República...perdeu toda a autoridade e credibilidade. 

Paralelamente aos factos atrás referido, Mário Soares, comportando-se como um Rei sem Trono, continua a escrever artigos e a dar entrevistas, quase diariamente, a pedir a demissão do Governo. Permite que a comunicação social tenha conhecimento, do seu encontro "privado" com José Sócrates, certamente para coordenar melhor as entrevistas que este dá ao fim de semana, onde demonstra, que já esqueceu o seu discurso de despedida, que foi o anterior Primeiro Ministro e que, se tivesse ganho as eleições, teria que ser ele a liderar a aplicação do Memorando.

Em síntese: Os interesses instalados, não aceitam reformas que os possam atingir. Os partidos do Governo, já não conseguem governar o país, mas não querem abandonar as benesses do poder. O PS, está disposto a tudo para ser governo, para entregar os "tachos" aos mesmos do costume, porque o sector público já  não dá para instalar todos os "jotas", nem os privados estão em condições de dar lugar a todos os quadros "desempregados. O PCP e o BE, tudo farão para impedir qualquer reforma no sistema, para manter os seus quadros no Parlamento, na função pública e nas autarquias e nos sindicatos. Todos conhecem a crise e a relativa decadência da Europa, mas não aceitam alterar o seu nível de vida de ricos, nem que seja à custa da generalização de pobreza, para a maioria dos portugueses.

As eleições autárquicas, estão já aí, sem qualquer reforma digna desse nome, porque o lobby autárquico, que domina os partidos em termos eleitorais internos, assim obrigou o PS e o PSD, este não resistindo sequer, à imposição de candidaturas completamente contrárias à lei. Hoje, Pedro Adão e Silva, através da apresentação do seu livro "E Agora?", deu pretexto para quase toda "a família" socialista se reunisse, em torno de uma alternativa ao actual Governo. Enquanto isto vem acontecendo, os indícios de corrupção alastram como manchas de óleo, ao mesmo tempo que já quase  ninguém acredita na justiça e nos tribunais.Ninguém parece querer assumir a responsabilidade de cumprir o Memorando, enquanto os juros voltaram a subir para níveis incomportáveis.

 Em conclusão, o descontentamento da juventude desempregada aumenta e, simultâneamente, a desconfiança nos partidos, sindicatos e em todo o sistema político. A NOMENKLATURA, parece ainda continuar a acreditar no sistema, que "o povo é sereno", e não parece disposta a mudar de vida. Neste contexto, futuras eleições para uma nova Assembleia da República e novo Governo, resolverão  os problemas financeiros, económicos, políticos e sociais em que o país está mergulhado? Perante o descalabro iminente, novo governo saído de eleições, assumirá reformar o sistema político e constitucional? Cada dia que passa, acredito menos nessa possibilidade! Como muitas vezes se tem escrito, somos "um povo que não se sabe governar, nem deixa que outros governem"! Talvez ...um movimento, ou levantamento de pessoas, como está a acontecer no Brasil...possa indicar o caminho das reformas!