sábado, 17 de dezembro de 2011

FINALMENTE DESPERTAM,A IDEOLOGIA... EXISTE!


Nas últimas semanas, várias pessoas voltaram a escrever sobre ideologia. Ainda que nenhum artigo aprofunde o tema, não deixa de constituir uma tomada de consciência de que, a par da crise gerada pelas dívidas soberanas, assistimos à continuação de uma grande guerra ideológica. Desencadeada nos anos oitenta, nos EUA com Reagan e em Inglaterra com a Thatcher, Passos Coelho e Victor Gaspar, querem agora demonstrar a verdadeira face da Direita em Portugal.


Falar apenas da direita, como acabei de fazer e a generalidade dos autores tem referenciado, não só é insuficiente, como pode significar uma recusa de analisar as classes sociais, os seus interesses e contradições. Será apenas coincidência, que quando se fala no ataque à "classe média", tenham aparecido pessoas a escrever sobre a ideologia? É minha opinião, que a primeira é a causa e a segunda a consequência.


Os artigos de Francisco Assis,no Público, Pedro Vasconcelos, no Diário de Notícias, do João Cardoso Rosas, no Diário Económico, e do autor do Blog "Banco Corrido", tem em comum a critica ao actual governo, pelo facto de estar a aniquilar a classe média. Convergem, na constatação, que as políticas actuais derivam da Escola de Chicago. Condenam veemente o desmantelamento progressivo do Estado Social, particularmente, as medidas que mais atingem a "classe média".


Naturalmente, omito os textos sobre ideologia, da área do PCP e BE, porque não os considero de esquerda, porque tem uma prática em contradição com as suas teorias, e estas, não podem corresponder aos seus objectivos, que não assumem, como já referi em alguns artigos aqui publicados.


Clarificando posições: É hoje indiscutivel que, actualmente, não há alternativa ao sistema capitalista. Contudo, até ao fim do século, era possível senão obrigatório, considerar que o capitalismo de estado da China, era diferente do sistema capitalista da Rússia, assim como o sistema Americano e Inglês, eram muito diferentes do da Europa continental, único sistema capitalista onde vigorava um Estado Social.


Focando-nos agora na Europa, UE, excepto a Inglaterra, uns governos a seguir aos outros, com maior ou menor amplitude, tem vindo a desmantelar o Estado Social. Ainda que tenha começado na década de oitenta, foi com a queda do Muro de Berlim e a globalização, que se veio a seguir, que começou a ficar patente que, a estratégia da Escola de Chicago, também era para se aplicar na Europa.



A direita conservadora e reacionária, através da ideologia neo-liberal, começou a desferir golpes parcelares ao Estado Social, desregulou os mercados e a organização do trabalho, e através da "mão invisível"do capital financeiro, passou a dominar o mundo globalizado, impondo regras do capitalismo selvagem, que antecedeu a segunda grande guerra.


Não constituindo estes factos qualquer novidade, qual a razão, porque de um momento para o outro, se começou a falar e escrever que o Sistema Social Europeu estava em crise,que a Democracia estaria em perigo e que a União Europeia se desintegrará? Porque a chamada classe média europeia, começou também a pagar os efeitos do neo-liberalismo e da globalização!


A pequena e média burguesia, composta por trabalhadores de serviços, técnicos, professores, cientistas, gestores, etc,ligados aos serviços do Estado e a empresas, em que a concorrência era só do Mundo Ocidental, estão agora a pagar a falta de competitividade, perante os grandes grupos dos países emergentes, como os operários e os trabalhadores menos qualificados já pagam há duas décadas, por efeito do movimento de milhões de trabalhadores que entraram na Europa!


A ideia utópica, para não lhe chamar oportunista, da chamada classe média, que o capital financeiro, apenas obrigaria a baixar os salários e regalias dos operários, mantendo as mesmas condições remuneratórias e benesses, para a pequena e média burguesia, só pode ser aceite por quem tem pouco conhecimento político e económico da História e nada sabe de Ideologia, talves porque alguns anunciaram o seu fim!


Em síntese e por hoje, tomemos em consideração a mobilização da última greve geral. Os dados oficiais, que ainda não vi desmentidos, e muitas análises feitas após a greve, são unânimes: foi um fracasso! Como compreender o alheamento generalizado dos operários e outros trabalhadores mal remunerados? A "guerra" não era sua. Há muito que estão a pagar a crise, para se interessar por lutas de quem ganha vencimentos duas, três, quatro vezes e mais do que eles!


Como lutar e avançar, continua em próximo artigo.

sábado, 10 de dezembro de 2011

FALAR...DE CÁTEDRA

Acompanho, com alguma regularidade, os artigos de opinião que o Prof. Viriato Soromenho Marques, publica no Diário de Notícias. Partilho de muitas das suas opiniões públicas, que conheço. Direi até, que tinha grande apreço e consideração, pela capacidade intelectual demonstrada, através das múltiplas actividades que desenvolve como cidadão.

Como reflexo da consideração e respeito antes referido, predispus-me a ouvir com toda a atenção, a entrevista que deu à SIC Notícias, na noite deste passado sábado.Fiquei surpreendido. Voltei a rever horas depois e aumentou a minha surpresa! Será, que ele, como Professor, ainda não encontrou, ou não quis assimilar o sábio princípio "quanto mais sei,mais sei que nada sei"?

A forma displicente como se referiu aos políticos, nacionais e europeus, que "apenas estudam em folhas de papel A4 e são incapazes de ler um livro", deixou-me perplexo. Todavia, a forma arrogante como se recusou a responder às ultimas declarações de Sócrates, gesticulando afirma, "não falo dessa personagem" afirmando de seguida, "estamos a falar de política não de..."(???), chocou-me! O Homem que liderou o país durante seis anos, não merece o mínimo de respeito? Será que pensa, que todos os políticos apenas tem o conhecimento e a cultura geral, como a generalidade dos estudantes universitários do 1º ano?

 Com o devido respeito, não posso deixar de afirmar que parte da sua intervenção foi, o que se chama na gíria popular, falar de Cátedra, colocar-se acima dos outros!
Ao longo da minha actividade política, que já leva meio século, conheci e discuti com muitos políticos, muitos dos quais sem formação académica, como era o meu caso até à idade de 55 anos,  que tinham conhecimento e cultura geral e uma biblioteca diversificada, que acredito, sinceramente, que faria inveja, senão provocar vergonha, a muitos homens e mulheres que se vangloriam dos seus títulos de " Prof. Doutor".

Apesar de ter ficado chocado com as afirmações antes referidas, não deixei de continuar atento ao desenrolar da entrevista. Assim, tive a oportunidade de voltar a constatar algumas convergências, com o seu pensamento. Segundo afirmou, e eu concordo, a eventual superação da crise económica e financeira, que Portugal e outros países europeus atravessam, só será possível se caminhar-mos para uma governação europeia política, económica e fiscal, ou seja, segundo a minha interpretação, constituir os Estados Unidos da Europa.

Entretanto, quando se tratou de falar na austeridade actual, não escapou a juntar-se à generalidade dos comentadores, e também usou a "cassete". Em Portugal e na Europa, as comunidades do saber, isto é, a dita classe média, não pode e não vai aceitar esta contínua austeridade, sem crescimento e sem criação de empregos novos, sem se indignar, ou até, sem se revoltar!

Quando será, que a generalidade da chamada classe média e grande parte da Elite portuguesa, compreende que o mundo se globalizou e que, apesar de muitas distorções dos acordos internacionais e das leis da concorrência em Portugal e na UE, que a concorrência existe?

Quando será que compreendem, que o mundo do trabalho tem sido desvalorizado há cerca de 20 anos, com a entrada de dezenas de milhões de trabalhadores na UE, e que agora, no fundamental, as reformas exigidas para a competitividade e combate do décite, passa pela desvalorização salarial dos serviços e redução drástica dos efectivos, excessivos,porque os sectores primários e secundários da economia, nuns casos diminuíram e noutros desapareceram para os mercados asiáticos e dos países emergentes?

Poderia ainda abordar, a "fúria" de muitos analistas, que se pronunciam contra a austeridade, os cortes nos vencimentos mais altos e nas pensões mais elevadas, mas que quase deixaram de falar nas "gorduras do Estado", no entanto, como o artigo já vai longo e não quero desviar do seu objectivo, ficamos por aqui, por hoje.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PERPLEXIDADES IV

Ao ver ontem no programa da SIC Notícias, as afirmações o Prof. Jorge Miranda, voltei a interrogar-me: Porque será, que ele é contra a alteração da Constituição, para permitir a vinculação de um limite máximo para o endividamento de Estado?

Durante as últimas semanas, vários políticos, jornalistas e comentadores têm afirmado que, estabelecer na Constituição um limite à dívida, constituiria uma ofensa à nossa dignidade e um atentado à nossa soberania. As justificações, são as mais variadas. Para uns, não se justifica porque os limites já estão contemplados em leis para constitucionais, leis reforçadas. Para outros, quem deve decidir até onde nos endividar-mos, serão os governos eleitos, porque representantes do povo. Outros ainda, porque proceder agora a mais uma alteração constitucional, significava submeter o povo português à Senhora Merkel, aos alemães.

Tais opiniões, ainda que respeitáveis, não são mais que simples lamurias, ou pretensas resistências de parte da Elite Portuguesa, uns por não quererem assumir as consequências dos seus actos ou omissões, outros, porque condenam qualquer decisão política que acentue o federalismo da UE, senão vejamos:

I É ou não um facto indiscutível, que a Constituição da Republica Portuguesa já foi alterada várias vezes, no sentido de contemplar as alterações dos Tratados que culminaram na UE ?

II Será legítimo falar agora em perda de soberania, por causa do limite de endevidamento, quando já cedemos a autoridade de emitir moeda para fazer-mos parte do Euro?

III Sendo verdade que tal limite foi uma imposição dos Alemães, isto é, os nossos principais credores,  o que justificará agora não querer "perder soberania" alterando a Constituição, quando ao mesmo tempo aceitámos, que através do Memorando da Troika, tivesse sido imposto um conjunto de medidas políticas e económicas, à margem da letra e do espírito  da Lei Fundamental da República?

É minha opinião, que a justificação para estas atitudes, deve-se ao facto de se estar com a "corda ao pescoço", impossibilitados de fazer face aos compromissos, quando foi aceite o Memorando. Agora, como o dinheiro vai sendo emprestado para pagamento das dívidas e os vencimentos dos funcionários públicos, parte da Elite já começou a readquirir a "vaidade balofa", já se vai sentindo com força para tentar impedir algumas reformas, adulterar outras,  tudo para a defesa da chamada classe média, que até parece ser o único problema de Portugal.

 Em síntese, o que nós vamos assistindo é a uma acção concertada das "corporações", instaladas no aparelho do Estado, na defesa dos seus interesses e dispostas a tudo para os manter, à custa de baixos salários e vencimentos do mundo do trabalho, que pouco beneficiou dos fundos da UE e dos empréstimos concedidos para todas as megalomanias!