quinta-feira, 15 de outubro de 2015

COMO A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA DE ANTÓNIO COSTA E O DESESPERO DO PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS, ALTERARAM O EQUILÍBRIO PARTIDÁRIO E GERARAM UMA GUERRA PELO CONTROLE DO APARELHO DE ESTADO!




Como a luta pela sobrevivência política de António Costa e o desespero do Partido Comunista Português, alteraram o equilíbrio interpartidário e geraram uma guerra pelo controle do aparelho de Estado. Quando a generalidade dos portugueses esperava a demissão do Secretário Geral do PS António Costa, face à rotunda derrota eleitoral que sofreu, ele não só afirmou que não se demitia como, ao mesmo tempo, enviou uma mensagem de socorro codificada (não faria coligações negativas) ao PCP, para a constituição de um governo alternativo à coligação. Como Jerónimo de Sousa estava desesperado, perante a espectacular subida do BE (mais de 285000 votos e o dobro de deputados, enquanto a CDU apenas aumentou 3300 votos) logo aceitou o convite, aparentemente de forma incondicional!

Como a generalidade dos portugueses anda distraído e os comentadores do sistema só querem manter as pessoas na ignorância do que é relevante, quase toda a gente ficou confusa ou estupefacta perante as reuniões partidárias que se seguiram e as eventuais consequências políticas. Poder-se-ia esperar de António Costa uma posição coerente e uma atitude digna, quando até aí nunca reconheceu erros nos governos que participou e nos levou à banca rota, que não foi capaz de se assumir perante a prisão e as acusações sobre Sócrates e que sabotou a liderança de António José Seguro? Só os ingénuos e as pessoas que não conhecem o seu percurso político, poderiam acreditar que ele tivesse um comportamento diferente. Ele sabe, que se não conseguir ser Primeiro Ministro, o seu lugar de Secretário Geral acaba e não terá futuro político!

Quem, ainda, consegue ter coragem para acompanhar as vicissitudes da política portuguesa e da vida partidária do "bando dos cinco", que estavam representados na Assembleia da república, sabe que os partidos políticos não tem credibilidade, que as divergências ideológicas entre eles são aparentes, que as propostas e as opiniões políticas mudam como o vento e de acordo com as circunstâncias pois, o seu único objectivo é repartir entre eles as benesses do Estado, que eles capturaram. A guerra que estamos a assistir, serve apenas para saber qual a coligação que tem a prioridade na colocação dos seus quadros e dirigentes no governo e aparelho de estado e de definir as reformas possíveis, que não contrariem as ordens da UE e melhor sirvam as suas clientelas, porque todos sabem que tem que cumprir as directivas de Bruxelas e dos credores para pagar as dívidas!

Mas, tendo o "bando dos cinco" tanta convergência de interesses, quais as razões que poderão justificar a alteração do equilíbrio interpartidário? Para não tornar o artigo muito extenso, vou apenas fazer referência aos acontecimentos políticos recentes, em Espanha e na Grécia. Em Espanha, a Esquerda Unida, último reduto dos comunistas, foi completamente engolida pelo Podemos, ou seja, um partido próximo do BE. Ao mesmo tempo, o PSOE, que não se conseguiu distanciar do PP, fez várias coligações autárquicas com o Podemos, para evitar que lhe aconteça o mesmo que os socialistas gregos. Na Grécia, o PASOK está em vias de extinção. Os comunistas gregos, que tanto lutaram contra a austeridade, foram marginalizados e viram o Syriza (os amigos do BE) voltar a ganhar as eleições, agora para aplicar as medidas que antes combateram.

Aqui chegados e perante a retumbante vitória do BE, poderia o PCP não fazer tudo para se atrelar ao PS, ainda mais quando este está debilitado, procurando evitar  a marginalização, como aconteceu aos seus camaradas na Espanha e na Grécia? Jerónimo de Sousa, tem plena consciência que perdeu a batalha com o BE nas universidades e não poderia deixar ir o BE sozinho com o PS para o governo, conforme sugerido no debate Costa/Catarina. E poderia António Costa, deixar de aceitar o convite do BE e fazer o pedido de socorro ao PCP, quando apenas tinha como alternativa abandonar a direcção do partido, deixar ficar o PS na oposição e aguardar que o BE lhe viesse roubar o eleitorado? Claro que não, a sua sobrevivência política e o poder pelo poder, está acima de tudo!

Em síntese, se não pode haver dúvidas que foi António Costa e o PCP que alteraram o equilíbrio interpartidário, também é indiscutível que a causa de todos os acontecimentos, é o resultado eleitoral do Bloco de Esquerda. É um facto, reconhecido por todos os adversários, que a prestação televisiva de Catarina, líder do BE, foi excelente na forma e no conteúdo. Na forma, constatou-se como passou a ser recebida e aplaudida, depois das intervenções na televisão. No conteúdo, porque soube abrir janelas para o PS e deixar implícito uma mensagem reformista, "social democrata", para as novas gerações de quadros da classe média. O exemplo do Syriza foi bem assimilado. Se é preciso fazer reformas impopulares e obedecer aos ditames de Bruxelas e dos credores para conquistar e manter o poder, pois que seja, a ideologia é passado. Catarina e seus amigos, pensam que o BE se consolidou e vai crescer, enquanto o PCP e o PS, estão em declínio e decomposição. E...é bom não esquecer...que o BE já se uniu ao PSD e CDS para derrotar o PS/Sócrates e, na Grécia, o Syriza fez a coligação com um partido da extrema direita!

Quanto à coligação do PSD/CDS, terá que aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos. Passos Coelho, tem toda a legitimidade para aguardar que o Presidente da República o convoque para formar governo. Todavia, só pressões intransponíveis de Bruxelas, é que poderão fazer recuar António Costa de apresentar um "governo de esquerda" com o PCP e o BE. Como consequência, se tiver forças para recusar as pressões, não vai deixar passar o governo de Passos Coelho. Resta à coligação de direita, a esperança que o PR não aceite o governo proposto por António Costa e que me mantenha o governo em funções, até que se possam realizar novas eleições. E...depois do que aconteceu em 2011...quem é que tem legitimidade para criticar os outros? Como diria Guterres, é a vida. Eu direi, o pântano continua e voltamos a caminhar para nova banca rota!