sábado, 6 de março de 2010

MUNDO NOVO, VÉRSUS HOMEM VELHO OU O CONTRÁRIO?



Antes, ainda, da queda do Muro de Berlim, através de artigos publicados e de debates muito polémicos, tinha concluído que o "socialismo real" , nas suas quatro versões ( Soviético, Chinês, Albanês e Terceiro mundista ) tinha perdido a batalha contra o capitalismo. Tal conclusão, foi fruto de muitos anos ligados a prática politica e sindical e, em particular, ao conhecimento que tinha desses países, apesar de nunca os ter visitado.


Posteriormente,após estudo profundo e variado, sobre as causas do declínio do socialismo e, muita reflexão sobre eventuais alternativas, tirei as minhas ilações e assumi, conscientemente, as respectivas consequências: passei a defender a social democracia (socialismo democrático ) e filiei-me no Partido Socialista.


Esta atitude, muito criticada, significou a minha vontade de continuar a lutar pelo desenvolvimento do nosso país, pela igualdade de oportunidades, pela diminuição das desigualdades sociais e, particularmente, pelo progresso social do mundo do trabalho, embora, por outros métodos políticos e princípios ideológicos diferentes.



Como operário consciente e esclarecido que era, não poderia ter ficado indiferente ás revelações, nos anos 70/80, sobre a verdadeira história da União Soviética, às mudanças na China com Teng Siao Ping, à decadência de Henver Hodja, em paralelo com as conquistas que o mundo do trabalho tinha conseguido na Europa Ocidental e na América,isto é, no mundo capitalista.



Tinha no entanto a percepção, como então escrevi, que a queda da União Soviética iria prejudicar os trabalhadores na Europa, por paradoxal que pudesse parecer. A "guerra fria" , ou, por palavras mais compreensiveis, a luta entre o capitalismo, puro e duro, e o capitalismo de estado, reinante no " socialismo real", aquele, tinha permitido, se não mesmo fomentado, muitas conquistas económicas e sociais para os trabalhadores, com o objectivo de os afastar do " socialismo " e do "comunismo". Com a derrota da União Soviética e a transformação da China " um regime, dois sistemas " o " gato, preto ou branco ", assim como os " tigres da sibéria " deixariam de assustar e, como consequência, o capital poderia voltar ao passado através de neoliberalismo.



Todos os factos, por mais objectivos que sejam, permitem sempre várias interpretações. A idade, e o estudo contínuo da sociedade, em particular, o estudo do Direito que fiz nos últimos anos, obriga-me, hoje, a respeitar mais as convicções diferentes das minhas. Também, porque as origens dos acontecimentos, e a percepção dos mesmos, podem ser variadas e, consequentemente, permitir opiniões diferentes , procuro ser mais objectivo nas analises, antes de criticar outras orientações políticas ou opções ideológicas, mas não desisto de defender o que em cada momento considero ser relevante na política portuguesa.


É minha convicção, que o mundo global actual, é totalmente dirigido, dominado, pelo capitalismo financeiro. É minha opinião, que a ideologia da globalização é o neo-liberalismo. Parece não haver muita dúvida, que ainda existem alguns países, que procuram resistir ao neoliberalismo, contrapondo o capitalismo de estado, ainda que diferente, do que existia na antiga União soviética. Todavia, o que parece inquestionável, é que não há ilhas de " socialismo " em parte alguma do mundo, apenas um ou outro regime político mais progressista no plano social.


Todos estes considerandos, têm o propósito de justificar a seguinte conclusão: vivemos num mundo global capitalista, o neoliberalismo é predominante e tende a alargar e consolidar o seu domínio. Este é o mundo novo desde os fins dos anos noventa, que transforma em velhos, os pensadores que não reconhecem tal facto.
O " homem novo " do socialismo e o "mundo velho" capitalista, já passou à história,
levando consigo os seus respectivos protagonistas.

Estes factos, ou a convicção que tenho deles, implicam duas opções:


Uma, não é possível discutir, o aperfeiçoamento do sistema democrático com objectivos progressistas, com os partidos e organizações que ainda vivem com a ideia ( apesar da ruína das convicções ) que o velho mundo subsiste e, por demagogia e sobre vivência, querem continuar a lutar contra e à margem do actual sistema.


Outra, as reformas necessárias e urgentes do sistema politico, obriga os partidos democráticos a respeitar as normas da democracia e os princípios do Estado de direito, estabelecidas na Constituição e nas Leis emanadas da Assembleia da República. A direita deve abdicar da guerrilha permanente sobre os poderes legítimos das autoridades da República, pois, apenas parece significar não reforma do sistema, mas a aniquilação do mesmo.


Nos últimos tempos, através do que me é possível ouvir, ler e ver nos média, estou a ficar persuadido que algo de muito errado e grave está a acontecer com os partidos democráticos no nosso país. Critica-se quase tudo e todos, sem propostas alternativas.Condenam-se presumíveis arguidos sem provas, questionando a isenção dos tribunais e o valor das leis e da justiça quando não lhe são favoráveis. Os partidos da oposição ao governo e as organizações de direita que os apoiam e/ou subsidiam, parecem querer retomar o poder a qualquer preço e à margem do processo democrático, sem respeitar os resultados eleitorais e as decisões legitimas do Governo.


Paralelamente a tudo isto, o povo interessa-se cada vez menos pela política e condena os políticos em geral, os partidos da dita "esquerda ",anti sistema, vão ganhando alguns apoios e eventuais votos na contestação às medidas anti crise, enquanto, ganha cada vez mais contornos, um ataque de alguma direita contra o actual sistema democrático. afirmando mesmo, que " há indícios do fim do actual regime democrático".


Quero acreditar que, sem ser formado em História, conheço o suficiente da História da I República, para constatar que há actualmente vários factos que configuram uma espécie de situação análoga ou próxima do fim da república. É preciso ser objectivo, não considerando meros indícios como factos.Um facto, é que temos o "seguro de vida " por pertencer-mos à União Europeia. No entanto, tenho a opinião que o tempo urge para fazer face à actual situação política, económica e social dentro do sistema.



Estamos no tempo e ainda muito a tempo de discutir e realizar as reformas necessárias. Os que não têm dúvidas de que o sistema é imperfeito, mas que tem a consciência que a história ainda não criou outro melhor, tem o dever de desenvolver todos os esforços para a realização de um verdadeiro debate de ideias e opções a tomar para sairmos desta situação já um pouco pantanosa.


Parece oportuno lembrar, que se deve tirar as consequências do silêncio da Igreja. Manter a discussão só nos altos dignitários, sem reconhecer os erros, os crimes e a obrigação de indemnizar as vitimas, só agravou o problema e o descrédito. Não será também tempo de discutir " fora de muros", com todos os interessados, e não apenas com os frequentadores das " lojas" e outras organizações afins, antes que o sistema jurídico e judicial fiquem eventualmente submergidos por mais ondas de contestação? Penso que é urgente...


Todos temos o direito e o dever de participar. O conhecimento, está necessariamente disperso por muitas organizações. Todavia, são os partidos políticos que têm a principal responsabilidade de discutir os problemas e apresentar soluções. Como membro do Partido Socialista, defendo esse debate tão alargado quanto possível, ainda que seja necessário fazer a discussão em sessões abertas a todos os militantes interessados.
Data da públicação: 5 de abril

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