segunda-feira, 15 de março de 2010

PENSAR É PERIGOSO...



Pensar em Portugal e sobre Portugal é muito perigoso, afirmou o Prof. José Gil, no jornal da 21h da SIC . Esta afirmação, merece profunda reflexão, tendo em consideração que há quem afirme:


Para os preguiçosos, pensar...cansa. Os que querem estar sempre com os vencedores, nunca é oportuno pensar. Muitos que sabem pensar...pensam apenas em si. Outros, que pensam...admitem que ninguém os quer ouvir ou ler o que escrevem e, por isso, não expressam publicamente as suas opiniões. Depois, há os que pensam em todas as formas e métodos, para que a generalidade das pessoas não pensem. Finalmente, há as organizações religiosas (cada vez em maior número ), que afirmam, ensinam, que " Deus " decide tudo, que a vida de cada um está definida, havendo que aceita-la ,resignadamente, sem pensar.


Entretanto, Portugal, continua a distanciar-se dos países mais avançados da Europa, o desenvolvimento económico e social, continua emperrado e, apesar de termos recebido tantos fundos da U.E. , as desigualdades sociais, entre os portugueses, aumentaram nas ultimas décadas.
Neste contexto, a afirmação do Prof. Gil, não deixa de ser paradoxal pois, o perigo, acompanha-nos desde que nascemos. Aliás, há estudos recentes, que permitem concluir que quanto mais protegemos as pessoas dos perigos, em particular as crianças, menos estão preparadas para enfrentar as dificuldades naturais da vida.
Por outro lado, quem estuda o desenvolvimento das sociedades, desde os primórdios da humanidade, sabe que o perigo do desconhecido, foi e certamente será, um factor determinante para o avanço contínuo das descobertas, em todas as áreas do conhecimento: na ciência, na economia, no processo tecnológico e no desenvolvimento social.
Todas as mudanças de estado do conhecimento, ou transformações sociais, estão associadas ao perigo. Pensar o mundo material e as leis do universo, contrariando os dogmas religiosos, levou milhares de homem para a fogueira. Pensar e defender novas formas de organização social, inclusive, o nosso regime democrático, custou a vida a muitos homens.
O conhecimento e o domínio das energias, particularmente a energia atómica,teve sempre o perigo associado, causando inúmeras mortes, muitas destruições e prejuisos iniciais. Todas as maravilhas da técnica que hoje permitem uma vida mais agradável, saudável e mais longa, são o resultado do pensamento dos homens para dominar o perigo do desconhecido.
Também as mudanças económicas e sociais , despertam um perigo enorme para os homens que têm o domínio do poder político e da riqueza económica, contudo, apesar do perigo de vida, muitos homens e mulheres, não deixaram de lutar pela mudança, mesmo pela violência, quando indispensável.
Invocar, que hoje ,é perigoso pensar em Portugal,pode significar uma desistência dos deveres da cidadania, ser condescendente para os muitos portugueses, que já se desinteressaram de pensar e agir pelas transformações que a nossa sociedade exige há muito tempo.
Todavia, sempre houve e haverá, quem ouse pensar, apesar de ser perigoso. Quero acreditar, que também em Portugal será assim. O grave problema, é que no nosso país, a maioria dos poucos que pensam e concluem pela necessidade de mudanças económicas, sociais e culturais, pensam....pensam...e sabem que tais mudanças os prejudicariam inicialmente, que os tirariam do pedestal, que perderiam as benesses dos títulos e, por isso, não querem expressar publicamente os seus pensamentos, argumentando ...ser perigoso pensar.
Mas...o perigo é a minha ( vossa ? ) vida e, como gosto de viver, vou continuando a pensar apesar de " ser perigoso ".
P.S. Já depois de ter escrito as reflexões sobre " pensar é perigoso " , vi o programa " prós e contras " onde participavam os Professores José Gil e Eduardo Lourenço. Fiquei surpreendido, por vezes estupefacto, pela falta de capacidade de resposta de ambos aos seus interlocutores de direita, na análise da situação política e económica concreta. Afinal, a escrever, parecem ser inquestionáveis, no entanto, perante o contraditório...foram confrangedores. Não admira, que a esquerda tenha falta de ideias. Felizmente, Mário soares continua vivo!


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