sábado, 22 de outubro de 2011

PROTESTAR OU REFLECTIR? REFLECTIR PARA SABER PROTESTAR!

(Continuação)



Feito o enquadramento político, ideológico e económico internacional, nos dois artigos anteriores, cumpre agora analisar, se devemos reflectir para contestar as medidas do actual Governo, ou se, seguindo a generalidade das pessoas que vão tomando posição, devemos apenas contestar. Tendo em consideração, tudo o que se diz e escreve nos média, mas também o que se vai escrevendo nos blogues e nos comentários aos artigos, ás notícias, ou às opiniões expressas nos blogues, direi que, quase tudo já foi dito mas, não sistematizado.


Penso, contudo, que continua sem se discutir e sem tirar conclusões sobre três problemas importantes, não só decisivos para compreender a situação de dependência em que nos encontramos, como também, para se entender como chegamos à banca rota: A desigualdade inaceitável da sociedade portuguesa; A de lapidação dos fundos que vieram da União Europeia; O facto de vivermos à décadas acima do que produzimos, ou seja, termos vivido como "ricos", quando apenas trabalhamos para ter vida de "pobres".


Vejamos a questão da desigualdade. Quantos relatórios de organismos internacionais foram publicados, referindo a desigualdade na sociedade portuguesa, não só entre o capital e o trabalho mas, também, entre os que exercem funções subordinadas? Quantos documentos e artigos estrangeiros, denunciaram que os gestores, os professores, os médicos e outras profissões mais ou menos liberais, ganhavam acima da média europeia, de que o exemplo mais paradigmático, era o vencimento do Governador do Banco de Portugal ser superior ao do Presidente da Reserva Federal Americana?


Entretanto, como se ia "combatendo" as desigualdades? Portugal chegou a parecer um autentico estaleiro com obras por todo o lado. Fundos para reorganização e modernização das empresas, eram às centenas de milhões de euros. O Fundo Social Europeu, comparticipou com com valores astronómicos para a formação profissional. Contudo, a generalidade dos trabalhadores e dos operários que não pertenciam à "elite" dos funcionários públicos ou das empresas e outras entidades públicas, continuavam sem recuperar dos cortes salariais dos períodos em que o FMI "dirigia" Portugal, porque?


Porque, quando havia muita necessidade de mão de obra e, como consequência, os trabalhadores poderiam exigir maiores salários e condições de trabalho, os empresários (para não lhe chamar apenas patrões), com a conivência de vários governos, "inundaram" o mercado com centenas de milhar de emigrantes, uns legais e outros clandestinos, o que impedia os aumentos de salário para muitos e a desvalorização para muitos outros dos operários e trabalhadores portugueses!


Simultaniamente, as Ordens dos Médicos, Engenheiros, Professores, Arquitectos e outras profissões qualificadas, a chamada "classe média" tudo fizeram para impedir a entrada de emigrantes nessas áreas, apesar da falta que faziam e muitos, inclusive, se encontrarem a trabalhar nas obras. Esta situação, entre muitas outras, ainda agudizou mais a desigualdade entre os que executavam os trabalhos e os que "mandavam". E digo que mandavam, porque quem dirigia de facto eram muitos engenheiros e técnicos estrangeiros, como o que morreu na ponte Vasco da Gama, enquanto os eng. portugueses assistiam engravatados!


Falta contudo referir ainda um aspecto importante, a responsabilidade dos sindicatos. Enquanto a situação do mundo de trabalho se degradava nas fábricas e na construção civil, na função pública e no Sector Empresarial do Estado, começou a generalizar-se duas categorias de trabalhadores: os que tinham contrato, acordo ou outro vínculo de trabalho, e os que não tinham qualquer garantia de trabalho. Os sindicatos, para manter ou até aumentar vencimentos e outras regalias dos trabalhados antigos, nada fizeram para impedir que as empresas contratassem trabalhadores a prazo, sem qualquer regalia e com vencimentos muito inferiores, muitas vezes menos de metade.

Como consequência, em poucos anos, nalgumas empresas, eram mais os trabalhadores com conrato a prazo, ou cedidos por empresas de trabalho temporário, do que os funcionários efectivos. Agora...tudo se conjuga...para a suspensão dos acordos, contratos e direitos para todos!


(Continua)

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