domingo, 6 de novembro de 2011

IGNORÂNCIA, OCULTAÇÃO OU DETURPAÇÃO DOS FACTOS, O QUE SERÁ PIOR?

Na actual situação política e económica, em que Portugal se encontra, o que será mais prejudicial para o nosso futuro: A ignorância ou a ocultação e deturpação dos factos ? Sinceramente, tenho alguma dificuldade em responder! No último artigo, já caracterizei várias situações políticas, económicas e sociais. Também assumi, haver necessidade de tomar várias medidas pelo governo, para tentar superar a crise em que vivemos. Penso, também, que identifiquei alguns dos factos e acontecimentos que contribuíram para o período de austeridade que vamos viver.

Hoje, vou procurar analisar, politicamente, dois estudos internacionais sobre a economia mundial. Um, sobre o crescimento desigual, publicado no blog ,"PUXA PALAVRA". Outro, sobre a distribuição da riqueza nos EUA, publicado no blog, "Esquerda Republicana". Embora a distribuição de riqueza, seja quase sempre dependente das políticas internas de cada país ou espaço económico, também é o resultado do PIB, isto é, da riqueza que cada sociedade consegue criar. Todavia, como não pode haver distribuição sem prévia criação de riqueza, ainda que possa haver mais justa redistribuição das dívidas acumuladas, vamos abordar o estudo sobre crescimento desigual.


Analisando o crescimento do PIB das economias avançadas, UE e EUA, a partir de 2007, ou seja antes da crise, e comparando com o PIB dos países emergentes e em particular os Asiáticos, a situação revelada é esclarecedora e chocante para o Ocidente. Enquanto a crise de 2008/2009, afectou profundamente a Europa e os Estados Unidos, provocando a queda do crescimento, os países emergentes apenas sofreram ligeiros desvios a um acentuado crescimento e os Asiáticos continuaram a crescer vertiginosamente.


Contudo, a situação mais grave, é revelada ao comparar-mos os dados de 2011. Na análise gráfica, partindo todas economias de uma base 100, a Europa desceu para 99,4, os Estados unidos "cresceu" para 100,6, as economias emergentes para 124,5 e as Asiáticas em desenvolvimento para 136,8. A conclusão é por demais evidente: No Ocidente, em quatro anos,não houve crescimento económico, nos emergentes um crescimento de 6%ao ano e na Ásia quase 10% de crescimento anual de riqueza!!!


Perante estes factos, será legítimo continuar apenas a lutar contra os governos, de esquerda ou de direita, sem colocar em questão a deslocalização das indústrias da Europa para o oriente, sem reequacionar o modelo social do período "neocolonial" Europeu, quando produzíamos e exportava-mos para todo o mundo? As crises das dívidas soberanas e privadas externas de Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e os outros países que estão na calha, são o resultado de termos perdido competitividade em relação às economias emergentes, reflecte a consequência de continuar-mos a gastar mais do que produzimos, enganados com o crédito barato que agora temos que pagar!


Simultaniamente e, também, reflexo da política neoliberal e do domínio de mundo pelo capital financeiro, temos milhões de desempregados na Europa, os salários e vencimentos do mundo do trabalho continuam a desvalorizar, as regalias sociais, conquistadas e instituídas de acordo com o Estado Social, umas estão a ser cortadas e outras diminuídas, ao mesmo tempo que as rendimentos dos altos quadros são enormes, escandalosos, e os detentores do capital ganham e roubam o que querem provocando uma desigualdade que já não existia à décadas!


Para concluir, cumpre agora relacionar o estudo sobre a distribuição da riqueza nos EUA. O gráfico apresentado, demonstra que já foi atingido uma desigualdade com valores idênticos aos anos trinta, do Século XX, e também que políticas contribuíram para a actual situação. Com pequenas oscilações, os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres, mantiveram-se com a mesma diferença, desde o início dos anos quarenta até á década de oitenta do Século XX. A partir de 1982, sobe a liderança de Regan e a política neoliberal, a desigualdade recomeçou novamente a crescer até chegar à actualidade idêntica à dos anos trinta, apesar de ter havido uma ligeira diminuição no mandato de Clinton.


Não sendo os Estados Unidos uma boa referência histórica, em termos de distribuição de rendimentos, poderá dizer-se, que actualmente representa bem o modelo universal do domínio financeiro e das políticas neoliberais, apesar do Presidente Obama, inicialmente, ter tentado contrariar um pouco o poder absoluto dos bancos e voltar à regulação do sistema capitalista. Os factos referidos, devem servir de meditação, para todos os que acreditaram na propaganda do neoliberalismo, da vantagem da iniciativa privada em contrapartida com o domínio público em muitos sectores estratégicos, ao mesmo tempo que criticaram e condenaram a política e os políticos como sendo todos iguais e corruptos. A ideologia nunca acabou, as classes sociais continuam e os Partidos Políticos não são todos iguais!


Os últimos acontecimentos, na Itália e na Grécia, como já aconteceu também a Portugal, Irlanda e em certa medida a Espanha demonstram, inequivocamente, que não são os povos a decidir quem governa, quem elege os governos. Berluscon e Papandreu tinham maioria absoluta. Todavia, perante os juros das dívidas soberanas que o capital financeiro vai impondo, nada lhe vai resistindo. As novas "lideranças" nos governos,apenas se limitam a cumprir as decisões do capital financeiro, para que as dívidas sejam pagas mesmo à custa do retrocesso social dos povos. Só a luta política dos povos da Europa e não cada país isoladamente, pode alterar esta política neoliberal, acabar com o domínio absoluto do capital financeiro. É indispensável que a política volte a comandar a economia. É necessário que os povos se voltem a interessar pela política e retomem o poder de eleger os lideres dos governos. É tempo de os Povos Europeus constituírem os Estados Unidos da Europa!

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