segunda-feira, 5 de maio de 2014

QUARENTA ANOS APÓS O 25 DE ABRIL, FORAM APRESENTADAS AS MAIS VARIADAS ANÁLISES HISTÓRICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS, MAS NÃO SE ASSUMIRAM RESPONSABILIDADES!

Primeira parte:


Quarenta anos após o 25 de Abril, foram feitas as mais variadas análises históricas, políticas e sociais, mas não se assumiram responsabilidades. Poderei afirmar que li largas dezenas de artigos, centenas de comentários, muitas entrevistas, vi dezenas de programas nas televisões e ouvi várias entrevistas na RDP, sobre a revolução dos cravos, para poder tirar conclusões. Por essa razão, apenas escrevi alguns pequenos comentários, sobre opiniões que me provocaram revolta imediata.

Para evitar qualquer deturpação do meu pensamento reafirmo, que no plano político e social, o 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida. Como consequência da minha actividade política contra o regime fascista, fui obrigado a sair do país, como já descrevi no artigo "Comemorar o 25, de Abril num estado de frustração e revolta" , aqui publicado, em Abril de 2011.
Logo que regressei a Portugal recomecei de imediato a actividade sindical e política partidária, chegando a participar numa lista de candidatos à Assembleia Constituinte, "dando a cara" na Televisão, na defesa do 25 de Abril e da revolução.

Pelas razões expostas e porque tenho dedicado grande parte da minha vida, como cidadão, à actividade política e sindical, considero ter alguma  legitimidade para analisar a situação económica e social a que o país chegou, criticar os principais protagonistas e atribuir-lhe a responsabilidade, por termos comemorado os quarenta anos do 25 de Abril, sob tutela da Troika (e antes apenas do FMI) pela terceira vez!

 Seria expectável, com tanto tempo decorrido, com muitos dos protagonistas responsáveis em idade avançada e outros já desaparecidos, que a Elite, que nos tem governado ao longo de décadas, procura-se explicar porque somos um "povo ingovernável" e assumisse as respectivas responsabilidades. De tudo o que vi e li, apenas a intervenção de Ramalho Eanes, procurou dar uma resposta, ao mesmo tempo que condenou de forma, veemente, a actual realidade social.

Penso não ser exagero afirmar que, com excepção dos membros do Governo, quase todos os políticos, politólogos, comentadores e jornalistas criticam o executivo, contestam as suas medidas, "pintam" o país de negro, lamentam a situação dos pobres, condenam os cortes nas pensões douradas e nos vencimentos da função pública e, para "lavar a consciência", a Elite atribui a principal responsabilidade à Troika e a Merkel.

Durante meses, assistimos a uma poderosa campanha contra os cortes nas pensões douradas e os altos vencimentos na função pública protagonizada, em especial, por Mário Soares, Ferreira Leite, Bagão Félix, a Dirigente da APRE e Boaventura Sousa Santos, com apoio explícito dos partidos da oposição e a total cobertura e conivência das televisões e dos média em geral. Quais foram as sugestões ou propostas desta gente para superar a situação de banca rota? Defenderam a convergência das pensões e reformas, para diminuir as desigualdades gritantes confirmadas nas estatísticas? Não! Sugeriram que as reformas tivessem por base a carreira contributiva? Não! Admitiram que não era justo haver três tipos de pensionistas, tendo em conta a data da aposentação e os futuros pensionistas? Não! Condenaram os cortes, aceitavam mudanças para o futuro e propuseram aumentos de impostos ou a criação de novos, para manter as suas regalias, mentindo continuamente ao afirmarem que eram vítimas todos os pensionistas e reformados.

Paralelamente, os sindicatos tudo fizeram para impedir os cortes nos vencimentos mais altos da função pública, procurando "atrelar" os funcionários não atingidos. Foram feitas manifestações, concentrações, ocupações, abaixo assinados e apresentadas protecções cautelares contra o Governo, a Troika e Merkel. Aceitaram os horários de 40 horas iguais ao sector privado? Não! Propuseram a diminuição de horários e correspondentes vencimentos, para impedir mais desemprego? Não! Reconheceram a necessidade e a justiça de aproximação dos salários do sector privado com os vencimentos da função pública? Sim...para o futuro!

Ainda que a quase totalidade dos protagonistas, da luta contra a Troika, estejam ligados à função pública e ao sector público, não era apenas o corte de pensões ou vencimentos que os preocupava. As reformas previstas no Memorando para a reforma do Estado e a diminuição das rendas excessivas na energia, telecomunicações e derivadas das PPPs e SWOPS, preocupavam profundamente os altos Quadros. Aparentemente, no início até aceitavam reformas...desde que não fossem abrangidos. Porém, as campanhas públicas contra as reformas e as manobras subterrâneas dos interesses instalados, com a conivência do Portas, foram sendo proteladas e praticamente abandonadas após a saída de Victor Gaspar.

Após a crise política Portas, para impedir as reformas, recomeça a campanha com o objectivo de derrubar o governo para impedir o cumprimento do Memorando. Como o Congresso das "alternativas" e a promoção de Carvalho da Silva não gerou o movimento que eles esperavam, entra em cena Mário Soares com as assembleias na Reitoria, contando com a colaboração dos descontentes de PSD e do CDS. Todavia, a influência destes acontecimentos não despertavam a aderência das pessoas, das "massas", como se provou no recorde de abstenção nas eleições autárquicas e na diminuição contínua das participações em manifestações, ou outros eventos políticos.

É neste contexto que surge o manifesto dos 70, contando com os amigos de Louça, no plano internacional. Como o PCP pretende manter o monopólio da luta pela renegociação da dívida, demarcou-se do manifesto sem o condenar. Como consequência, os principais proponentes do Manifesto, como não sabem organizar as "massas" nem gostam muito de trabalhar, viraram-se para a Net e conseguiram cerca de 40000 assinaturas. Porém, passado algumas semanas, raramente as televisões ou as redes sociais abordam o tema porque, entretanto, novas eleições estavam à porta e, para a Elite, havia que monopolizar a reflexão, sobre os 40 anos após o 25 de Abril, para impedir que pessoas descomprometidas  com os interesses instalados, pudessem ter acesso aos média!







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