sábado, 17 de abril de 2010

O TARRAFAL E OUTAS MEMÓRIAS

Não esquecer o TARRAFAL nem outras prisões, para que o passado ,tenebroso , não seja esquecido e permita aos homens, meditar, como construir o futuro em liberdade. Foi com relativa emoção, que assisti à apresentação da exposição sobre " Memória do Campo de Concentração do TARRAFAL " . Ainda que tenha sido realizada pelo Museu de Neorealismo em colaboração com a Fundação Mário Soares, é justo elogiar a iniciativa da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, em particular, de Maria da Luz Rosinha, como presidente.
A documentação e as imagens são elucidativas de um tempo que não deve voltar. As várias intervenções, contribuíram para despertar as emoções, de muitos dos presentes que tinham dedicado parte das suas vidas à actividade política. Das várias personalidades presentes, é obrigatório destacar Mário Soares, pois também foi deportado para São Tomé e, muito particularmente, Edmundo Pedro,um dos poucos Homens vivos que passou pelo desumano campo do TARRAFAL.
Apesar da emoção, provocada pela descrição das condições desumanas do campo de concentração, a intervenção do Edmundo Pedro, provocou-me uma grande alegria, ao constatar que apesar de já estar fisicamente frágil, continua lúcido, sereno e com uma dignidade e humanidade inexcedível. Na Mesma situação se encontra Mário Soares, o Homem Político que mais me influenciou nos últimos vinte anos e que continua, através dos seus escritos, a obrigar-me a reflectir.
Mas... a memória, o meu " baú das recordações " ,quase " traio " o momento de exaltação do passado de tantos homens corajosos e abnegados na luta contra o fascismo, para me lembrar de outro Homem, também preso e torturado de forma brutal e desumana - Francisco Martins Rodrigues.
A presença no local dos ex MRPP Victor Ramalho, Fernando Rosas e, especialmente, Arnaldo Matos, fez o meu pensamento regressar ao passado, quarenta anos! Recordei então, que foi a leitura de uma carta da prisão, de Francisco Martins Rodrigues, que me foi lida por outro camarada de Vila Franca De Xira, com o qual a discutimos a adesão ao movimento, que levou à constituição do MRPP. Foi essa carta, que me fez sair da " órbita" do PCP, ao qual nunca aderi, apesar de continuar muito activo na CDE e de trabalhar com vários militantes do PCP.
A Vida ensina-nos que, normalmente, a memória guarda melhor os acontecimentos que cada um de nós vive. Ao ouvir Edmundo Pedro fazer referência à "frigideira" que torturava até à morte os deportados, a minha memória " despoletou " e,recordei então, a tortura a que Francisco Martins Rodrigues foi submetido, que o levou a confessar, " trair ", o que nos obrigava a lutar pela sua libertação para dirigir o movimento. Recordei a seguir a prisão de Fernando Rosas, já dirigente do MRPP, que confessou tudo sobre a organização e, teve como consequência, a minha fuga para França e a prisão de outros camaradas, que ele tinha denunciado.
Ao ver todos eles, não pude deixar de recordar a capacidade de mobilizar as " massas" que o Arnaldo Matos tinha, quando enchia o Campo Pequeno. As divergências que então tínhamos sobre a " reorganização do Partido Comunista "e que chegamos a discutir em minha casa. As alterações que fiz à minha vida, como resultado da minha militância política. O meu pensamento voou sobre inúmeras memórias...que aguardam publicação.
Todavia, perante as mesmas situações objectivas de Portugal e do Mundo de então, reafirmo que voltaria a fazer tudo o que fiz. Continuo a pensar, que a actividade Política ao serviço da liberdade, da democracia e do progresso da Humanidade, é a actividade mais digna do Homem! Na pessoa do revolucionário e democrata Edmundo Pedro, presto a minha singela homenagem a todos os Homens e Mulheres que deram o seu contributo, alguns a própria vida, para hoje vivermos em liberdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário