sábado, 14 de janeiro de 2012

Mais Uma Tentativa De Apagar O Nome Dos Operários Da História Do "Maoismo"!




Ao longo dos anos tenho assistido aos mais variados atropelos à verdade histórica do movimento operário português e particularmente, da relevância que tiveram alguns operários na criação e desenvolvimento das organizações Marxistas Leninistas, ou, como muitos continuam a gostar de referir, movimento Maoista.

Continuamente, os estudantes universitários de então, hoje quase todos Professores Doutores, vão reivindicando para si a importância que tiveram aquelas organizações, omitindo sistematicamente o papel dos operários que pertenceram a cada uma das organizações, ao mesmo tempo que valorizam apenas a importância dos intelectuais.

O facto de muitos dos " ex estudantes comunistas Marxistas Leninistas" terem regressado às faculdades, completado as suas licenciaturas e transformando-se em quadros do regime democrático, com ligações ao poder e acesso aos meios de comunicação social, enquanto os operários continuaram a trabalhar para viver, por vezes sobreviver e cada vez mais marginalizados,não significa que não tenham passado, história.

Assisti-mos ao desmoronamento do mito do nosso papel na sociedade, da nossa subalternização nas organizações sindicais e políticas, não podemos aceitar que omitam tudo quanto fizemos, os riscos que corremos e, acima de tudo, o nosso contributo para a implantação da democracia, ainda que tenhamos lutado em nome da revolução e da ditadura do proletariado.

Estes considerando iniciais, são feitos a propósito de um artigo do jornal Público, "Trova de um vento que passou" , tendo por base a Tese de Doutoramento de Miguel Cardina. Possivelmente pelos conhecimentos que tem, ou condicionado pelos intelectuais "ex maoistas", o jornalista João Bonifácio, entendeu auscultar como "militantes de há 40 anos" Fernando Rosas, Hélder Costa e Irene Pimentel, super badalados e citados e, ainda, Aurora Rodrigues,Joaquim Pinto da Silva e Manuela Juncal, relativamente desconhecidos.

Não lhe terá passado pela cabeça, quando cita os lugares onde houve implantação das organizações m. l.,que poderia haver operários, ou reformados ex operários, que tivessem também interesse em dar as suas versões da história desse tempo? Ou será que também pensa, que esses antigos operários eram uns "mentecapto", ignorantes e subservientes dos intelectuais? Ou defende, que os ex estudantes tem nomes e os operários eram apenas uma amalgama de pessoas desconhecidas e sem influencia no seio da sua classe?

Não pretendendo, por agora, apelar às minhas memórias de militante sindical e político, particularmente, à minha participação nas organizações Marxistas Leninistas, nem citar o nome dos operários que comigo participaram ou conheci nas organizações, porque não o farei sem a sua autorização, não posso no entanto aceitar, mais uma vez, que "a árvore genealógica" do Marxismo Leninismo de Portugal seja podada e cortado os "ramos" dos Intelectuais Operários!

Posso afirmar, que conheci e trabalhei politicamente, desde 1969 a 1975 e ainda depois, com dezenas de autênticos Intelectuais Operários, incluindo muitos do PCP e alguns do PS, com os quais trabalhei nos sindicatos e na Comissão Democrática Eleitoral - CDE. Creio, que ao longo da minha vida, conheci centenas de operários conscientes dos seus direitos e combativos pela causa da revolução e da democracia. Ainda que só algumas dezenas tivessem formação ideológica, por impossibilidade de acesso ás livrarias de Paris, os Intelectuais Operários que refiro, tinham uma experiência de luta, bibliotecas e, como consequência, um conhecimento político muito superior aos ex estudantes, com uma ou outra excepção.

Tenho muitas dúvidas que o tipo de artigos do Publico e outros já publicados, assim como vários livros acerca destes temas, despertem muito interesse na generalidade das pessoas, ou contribua para superar alguns dos problemas actuais da democracia em Portugal.

Por aquelas razões,apesar de ainda nos anos setenta e como autodidacta (tinha apenas com a 4ª classe), ter escrito e publicado um texto exaustivo- Que Fazer? - sobre a controvérsia intelectuais e operários, quando no início dos anos oitenta fiz a ruptura política e ideológica com o Marxismo Leninismo, entendi não escrever "memórias". O estudo que então fiz, anos antes da "queda do muro de Berlim",deixou-me plenamente consciente que as suas teses não eram cientificas, que se tinha adulterado a História e que no confronto com o sistema capitalista, este tinha ganho a guerra!

Coerentemente, entendi não continuar a gastar o meu tempo com uma ideologia que a história provou ser errada e, em contra partida, voltar a "por as mãos na massa" da militância, aderindo às teses da Social Democracia, filiando-me no PS, para continuar a luta pelo reforço da democracia, da liberdade, do progresso social e, principalmente, pela diminuição das desigualdades sociais.

Em síntese, ainda não sei se, e quando, vou escrever sobre a minha actividade política e sindical. Antes disso, quero reunir e eventualmente publicar ou tornar público no meu blog, tudo o que escrevi e publiquei em jornais regionais e na revista do Francisco Martins Rodrigues. Contudo, sempre que tenha conhecimento de artigos ou livros, em que se aborde temas relacionados com as ex organizações Marxistas Leninistas, que adulterem a História omitindo OS NOMES dos operários, Voltarei em defesa do passado e da honra de tantos homens operários, que muito deram à causa pública, inclusive, alguns, a própria vida!

Conheci e em certa medida trabalhei, com praticamente todos os lideres dessas organizações. Fiz parte da direcção de algumas delas. Tenho apontamentos minucioso sobre muitos ex militante e organizações. Tenho, finalmente, uma colecção completa dos jornais e revistas dessas organizações, como ainda muitos documentos internos sobre esse período e, particularmente, da tentativa de tudo unificar, meu principal objectivo após o 25 de Abril.

Falta-me... a convicção da necessidade, ou apenas da utilidade, de escrever sobre o passado, quando o presente tanto me preocupa ao constatar, depois de o ter previsto, que muitos dos direitos do mundo do trabalho, pelos quais toda a vida lutei...estão a ser omitidos, adulterados e muitos revogados, em nome de uma nova ordem politica e económica internacional!



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