sexta-feira, 2 de março de 2012

Pequena Frase Com Grande Significado!




No Jornal de Negócios, do dia 1 de Março, Pedro Santos Guerreiro, na parte final do seu editorial escreve: "Seria preferível cortar os brutos salários do que os salários brutos. Mas assim está a acontecer. E à bruta." Tanto quanto sei, não é um Homem de esquerda, não tem passado revolucionário e, certamente, não é por acaso que dirige um jornal identificado com o Capital.

Defender o corte dos "brutos salários", num país tão desigual como é o nosso, é não só uma opinião justa, como é relevante e raramente assumida, em particular, por pessoas afectas aos interesses do capital. São muitas as pessoas, que escrevem e falam sobre os baixos salários dos trabalhadores portugueses. Todavia, são poucos os comentários, que relacionam os baixos salários, como uma consequência, da existência de "brutos salários".

São vários os artigos, aqui publicados, em que tenho abordado o escandaloso caso, que constitui a situação das desigualdades sociais, no nosso país. Tenho afirmado, como muitos o fazem, que a desigualdade na repartição da riqueza produzida, entre o capital e o trabalho, não para de aumentar a favor do capital. No entanto, não é apenas as desigualdades, atrás referidas, que nos colocam na cauda da Europa é, também, as desigualdades de salários e vencimentos, no mundo do trabalho, entre gestores e quadros por um lado e os trabalhadores por outro. Este facto raramente é referido.

É neste contexto, que a opinião de Pedro Santos Guerreiro, é relevante. Afirmar que seria preferível, cortar os "brutos salários" , só pode significar o reconhecimento, de que no nosso país
há vencimentos escandalosos. Era e ainda é, o caso do Governador do Banco de Portugal, de gestores de empresas públicas, de institutos e outros organismos do Estado e das Autarquias, que tendo anteriormente, vencimentos próximos do Primeiro Ministro passaram, progressivamente, a ganhar o dobro e o triplo, nalguns casos mais, no espaço de pouco mais que uma década!

Naturalmente, esta realidade não é exclusiva do sector público. Também no sector privado, aquelas desigualdades existem. Como também há Quadros a mais, em comparação com o número de trabalhadores. Em muitas empresas e particularmente nas empresas e institutos públicos, a pirâmide organizacional chega a ser invertida, como consequência de tantas chefias, de tanta vontade de mandar, de tanta incompetência e incontrolável corrupção!

Perante estes factos indiscutíveis, (que qualquer interessado pode confirmar através das estatísticas, que vários estudos europeus tem confirmado, que até o Embaixador Americano criticou, referindo-se "aos Generais sentados"), seria natural que as organizações sindicais e os auto nominados partidos de esquerda, fizessem uma critica cerrada contra as desigualdades e apresentassem propostas e programas alternativos. Porém...é melhor "lutar" contra a austeridade, contra os governos, contra o FMI, ou seja, objectivamente lutar pela manutenção dos interesses instalados, a chamada classe média, à custa das vítimas das desigualdades.

Como é possível compreender, que tanta gente critique os Alemães, como responsáveis da situação em que vivemos, quando eles não são vítimas de desigualdades próximas das nossas, quando as empresas Alemãs, em Portugal, conseguem ser competitivas no plano internacional, apesar de pagar dos mais altos salários? Porque a Elite portuguesa omite as razões e os factos, culpando apenas os trabalhadores! Porquê são feitos tantos elogios à Auto Europa e não é explicado a razão do seu sucesso? Porque lá há organização, faz-se formação contínua, as chefias são mínimas, os quadros são os indispensáveis e...trabalham, os gestores trabalham em equipa para objectivos definidos e são responsáveis pelos resultados...que tem que dar lucros!

Em suma, o que a Auto Europa e outras empresas internacionais instaladas em Portugal demonstram, é que os trabalhadores portugueses, quando bem organizados e dirigidos, são produtivos como os melhores da Europa. Quanto à maioria da Elite portuguesa...gosta de mandar...não sabe dirigir e odeia trabalho e organização, mas é exímia, na exploração e na manutenção das desigualdades sociais! Será por mero acaso, que em três décadas , tivemos que recorrer três vezes ao FMI, apesar de termos recebido dezenas de milhares de milhões de Euros, para nos reorganizar e modernizar, desde que nos integramos na União Europeia?

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